domingo, abril 16, 2006

Crítica a novela América!

Escrevi esse texto na semana em que a novela América apresentava seus últimos capítulos, mesmo tendo se passado já um certo tempo, avalio que é oportuno publicá-lo aqui neste espaço. Boa leitura!!!
A Educação de Jovens e Adultos no Brasil de hoje
Não tenho hábito de assistir novelas por absoluta falta de tempo. Tomo conhecimento dos acontecimentos que cercam as tramas, eventualmente, ouvindo as pessoas que assistem. No entanto, semana passada (sexta-feira-feriado) uma cena da novela América chamou minha atenção.
Tratava-se de uma seqüência em que Carreirinha, personagem vivido por Matheus Nachtergaele, estava em uma sala de aula juntamente com seus colegas e a professora Dadá (participação especial de Betty Goffman). Na cena, todos esperavam com ansiedade que Carreirinha escrevesse seu primeiro nome, Jesuíno, no caderno.
Em um close da câmera mais ao fundo da sala era possível observar uma propaganda do Programa Brasil Alfabetizado do governo federal. Ao terminar de escrever, Carreirinha mostra a professora seu caderno. Juntamente com o restante da turma, a professora comemora com muita alegria o fato de Carreirinha não ser mais "analfabeto". O personagem cita o nome de Paulo Freire como um amigo de muitas datas e que gostaria que este pudesse participar, juntamente com a professora, do seu casamento.
Como expliquei de início, não tenho acompanhado o enredo desta novela, não sei como se desenrolou este núcleo da novela, qual a lógica transmitida nos momento em que a sala de aula foi apresentada. No entanto, aquela cena me deixou pensativa: Carreirinha poderia ter escrito um pequeno bilhete para a noiva (segundo minhas pesquisas seu objetivo na escola era aprender a assinar o nome para casar com Conchita) ou uma frase dizendo da sua paixão pela moça, mas enfim, tudo que escreveu foi seu primeiro nome, Jesuíno.
Fui mais além e pesquisei sobre o perfil desse personagem e vejam o que encontrei: “Corajoso e inconseqüente, é chamado sempre para domar os animais mais bravios. Nos rodeios, monta mandando beijos e acenando para a platéia, que o aplaude delirantemente. Não tem juízo. O dinheiro que ganha, joga fora, comprando inutilidades ou distribuindo. Está sempre indo preso por toda a sorte de delitos: perturbar a lei do silêncio, excesso de bebida, arruaça, desacato à autoridade, sedução. Mas na hora dos rodeios, por exigência do público, é levado pelos guardas até a arena, onde faz seu espetáculo e depois o reconduzem à cela. É alegre, divertido e fantasioso. Não tem família, foi criado jogado de um orfanato a outro e está sempre encostado ou na casa de Tião, ou na casa da viúva Neuta.” (site oficial da novela).
Nada contra o ator, que é excelente, nem contra o personagem. Todavia essas informações me deixaram ainda mais pensativa: É essa a idéia de alfabetização que gostaríamos de apresentar em horário nobre para milhões de brasileiros? É esse estereotipo do aluno adulto que gostaríamos de ver veiculado em horário nobre? O aluno que aprende a assinar o seu primeiro nome está alfabetizado? Essa é a concepção do Programa Brasil Alfabetizado, considerando a propaganda veiculada na cena? E as idéias de Paulo Freire, mencionado na cena, o que tem haver com essa idéia de alfabetização?
Juntando-se a esses fatos, me deparo com esta informação na internet:
"O programa Brasil Alfabetizado, do Ministério da Educação (MEC), aplicará em três cidades do Piauí projeto piloto utilizando métodos de alfabetização desenvolvidos na ilha de Cuba para jovens e adultos acima de 15 anos. Um grupo de educadores cubanos começará em agosto a desenvolver uma versão do programa "Yo sí puedo" para o Brasil, com o objetivo de reduzir os índices de analfabetismo no País.
Realizado à distância por meio de vídeos e de material didático, o método permite um alcance maior com menores custos enquanto a metodologia empregada hoje no Brasil que exige a presença dos alunos na sala de aula. Países da África e da América Latina já adotaram o método com sucesso. Caso o êxito seja reproduzido também no Piauí, o projeto poderá ser ampliado para outras regiões.
O Brasil tem cerca de 16 milhões de analfabetos absolutos (que nunca estiveram numa escola), de acordo com o último Censo do IBGE, realizado em 2000. Em Cuba, o índice de analfabetismo entre a população acima de 15 anos é de 1%; no Brasil, é de 12% nessa faixa etária".
Radicais livres Ano IX / nº381 / abril/maio de 2005
A notícia é antiga, primeiro semestre - 2005, confesso que não sei o resultado de tudo isso hoje, mas só tenho a dizer que é lastimável tanto desencontro, falta de planejamento e seriedade na Educação do nosso país. Vou concluir esta reflexão com a fala de um aluno da 7ª série – supletivo presencial de uma escola pública da cidade de Bayeux - sobre o programa PROJOVEM do governo federal:
"Liguei pra lá professora. A moça informou que esse programa só é pra aluno que dá mais trabalho na escola, pra ver se ele se ajeita. Agora eu penso que isso é errado. A pessoa que faz tudo direito, que estuda e vem todo dia, num entra não, eles num tão pegando não, e é só para quem mora em João Pessoa, a gente que faz o maior esforço não ganha nada não". Patrícia Santos Novembro – 2005

Um recado contra o racismo!

Não espere dos Negros e Negras que estes mudem a sua maneira de encarar o mundo , se você não mudou a sua maneira de encarar o Povo Negro!
Não exija dos Negros e Negras que estes sejam "dóceis", "servís", "pacatos" ou "coniventes" com as coisas do seu mundo, se as suas atitudes para com o Povo Negro são de preconceito, de discriminação e de racismo!
Não queira que Negros e Negras digam "sim", enquanto você lhes diz "não" - em todas as coisas que almejam para as suas vidas! ZUMBI DOS PALMARES nos deu esta CONSCIÊNCIA NEGRA: você não vai querer que a gente desista de tudo, somente porque você não gosta de Negros!!! Isto é um problema seu!
Nossa NEGRITUDE é a base do sentimento e do desejo de humanidade. Mas você prefere acreditar que somos os responsáveis pelas mazelas do mundo...
Não precisamos que você seja "como nós": temos tantas felicidades, com a nossa Negritude, que podemos até dividi-las com você, na hora em que precisar!
Antes de querer que a gente fique "do seu jeito", lembre-se que desde o começo da humanidade temos o nosso próprio jeito de ser! E isto não é um problema seu...!
João Balula

Mensagem sobre a arte da boa convivência!

Durante uma era glacial bem remota, quando parte de nosso planeta se achava coberto por densas camadas de gelo, muitos animais não resistiram ao frio intenso e morreram. Morreram indefesos por não se adaptarem às condições do clima hostil. Foi então que uma grande manada de porcos espinhos, numa tentativa de se proteger e sobreviver, começaram a se unir, a juntar-se mais e mais.
Bem próximos um do outro, cada qual podia sentir o calor do corpo do outro. E assim bem juntos, bem unidos, agasalhavam-se mutuamente. Assim aquecidos, conseguiram enfrentar por mais tempo aquele inverno terrível.Vida ingrata, porém... os espinhos de cada um começaram a incomodar, a ferir os companheiros mais próximos, justamente aqueles que lhes forneciam mais calor.
Feridos, magoados e sofridos, começaram a afastar-se. Por não suportarem mais os espinhos de seus semelhantes, eles se dispersaram. Novo problema: afastados, separados, começaram a morrer congelados.Os que sobreviveram ao frio voltaram a se aproximar, pouco a pouco. Com jeito e precaução. Unidos novamente, mas cada qual conservando uma certa distância um do outro. Distância mínima, mas suficiente para conviver, sem ferir, para sobreviver sem magoar, sem causar danos recíprocos.Assim agindo, eles resistiram à longa era glacial.
Apesar do frio e dos problemas, conseguiram sobreviver.Viver não consiste em respirar, mas em agir, e nada de grandioso se consegue sem uma forte vontade e uma grande parcela de amor, para podermos superar as nossas dificuldades e as nossas limitações.As vezes os espinhos que outras pessoas possuem nos incomodam, mas temos que tentar conviver com os nossos espinhos e os de outras pessoas que nos são caras.
Autor Desconhecido

É certo uma doméstica ganhar mais do que um professor?

Folha de São Paulo, 09 de abril de 2006.
" O salário médio de uma empregada doméstica na cidade de São Paulo é de R$800, informa a Federação Nacional das Trabalhadoras Domésticas. É mais do que os R$ 615 pagos a uma professora iniciante da rede municipal, com uma carga horária de 20 horas.
Se comparássemos com uma doméstica diarista, a diferença seria muito maior: sua média de rendimentos é de R$ 1.600 mensais.O professor iniciante paulistano não pode, aliás, nem mesmo contar vantagem diante dos pedintes dos semáforos. Segundo estimativa da Secretaria Municipal do Desenvolvimento Social, esse trabalhador tira, em média, R$ 25 por dia.Com o rendimento inferior ao de uma empregada doméstica e quase empatado com o de um pedinte, entende-se por que os professores entraram em greve em São Paulo.
O problema não é só dinheiro: eles vivem sob intenso estresse, devido às salas superlotadas, alunos indisciplinados e agressivos, além de serem vítimas das mais diversas formas de violência.Nessa questão salarial se revelam, na verdade, os valores de uma nação. Na prática, essas comparações significam, por mais absurdo que pareçam, que a sociedade dá mais valor à posição social de uma empregada do que a de um professor público -é assim que se medem, e não no palavrório, as verdadeiras prioridades do país. Poderíamos medir a prioridade não só pelo salário mas pela baixa repercussão que essa greve tem na opinião pública. Imaginem o barulho que haveria se a paralisação fosse em escolas de elite, e os filhos dasfamílias mais ricas tivessem de ficar em casa por duas semanas.
No caso da rede pública, as mães muitas vezes não têm nem com quem deixar seus filhos. Se achamos que, sem boa educação pública, uma nação não consegue se desenvolver com um mínimo de igualdade e que a produtividade econômica estará ameaçada, o lógico seria que existissem esforços continuados e obsessivos para estimular a carreira do professor. Como podemos atrair pessoas mais talentosas e preparadas sem estímulo salarial?
Evidentemente o que vemos hoje não é culpa desse ou daquele governo, mas de uma falta de reverência a compartilhar de conhecimento entre todos. Como as famílias mais ricas têm seus filhos em escolas privadas, uma greve como a que está ocorrendo provavelmente só entra na conversa -isso se entrar- se a empregada lamentar com a patroa que não tem com quem deixar o filho. Há traduções óbvias e repetidas para essa fragilidade: repetência, evasão e baixíssimo aprendizado. (...)"
GILBERTO DIMENSTEIN
Esse texto representa, não só a realidade dos professores da rede pública no estado de São Paulo, mas de todo Brasil. Infelizmente nossos governantes ainda não "descobriram" o x da questão. Um país que não investe responsavelmente em educação, consequentemente, não conseguirá desenvolver-se satisfatoriamente.
Para nós, professores, que estamos no dia-a-dia vivenciando as mazelas da escola pública que, hoje, reflete as desiguldades sociais de uma sociedade tão injusta, os caminhos estão muito claros. É uma pena que estes caminhos/sugestões/idéias nunca sejam aproveitadas por nossos governantes. É uma pena que as "mudanças" sejam sempre implementadas de cima para baixo, sem diálogo, sem responsabilidade, sem objetivos consistentes...
E enquanto isso faz parte da rotina mensal de todos os professores da cidade de Bayeux - PB, ao abrir seu contra cheque, ver registrado a quantia de R$ 0,65 centavos referente ao salário família. Que vergonha!!!!!!!!