Escrevi esse texto na semana em que a novela América apresentava seus últimos capítulos, mesmo tendo se passado já um certo tempo, avalio que é oportuno publicá-lo aqui neste espaço. Boa leitura!!!
A Educação de Jovens e Adultos no Brasil de hoje
Não tenho hábito de assistir novelas por absoluta falta de tempo. Tomo conhecimento dos acontecimentos que cercam as tramas, eventualmente, ouvindo as pessoas que assistem. No entanto, semana passada (sexta-feira-feriado) uma cena da novela América chamou minha atenção.
Tratava-se de uma seqüência em que Carreirinha, personagem vivido por Matheus Nachtergaele, estava em uma sala de aula juntamente com seus colegas e a professora Dadá (participação especial de Betty Goffman). Na cena, todos esperavam com ansiedade que Carreirinha escrevesse seu primeiro nome, Jesuíno, no caderno.
Em um close da câmera mais ao fundo da sala era possível observar uma propaganda do Programa Brasil Alfabetizado do governo federal. Ao terminar de escrever, Carreirinha mostra a professora seu caderno. Juntamente com o restante da turma, a professora comemora com muita alegria o fato de Carreirinha não ser mais "analfabeto". O personagem cita o nome de Paulo Freire como um amigo de muitas datas e que gostaria que este pudesse participar, juntamente com a professora, do seu casamento.
Como expliquei de início, não tenho acompanhado o enredo desta novela, não sei como se desenrolou este núcleo da novela, qual a lógica transmitida nos momento em que a sala de aula foi apresentada. No entanto, aquela cena me deixou pensativa: Carreirinha poderia ter escrito um pequeno bilhete para a noiva (segundo minhas pesquisas seu objetivo na escola era aprender a assinar o nome para casar com Conchita) ou uma frase dizendo da sua paixão pela moça, mas enfim, tudo que escreveu foi seu primeiro nome, Jesuíno.
Fui mais além e pesquisei sobre o perfil desse personagem e vejam o que encontrei:
“Corajoso e inconseqüente, é chamado sempre para domar os animais mais bravios. Nos rodeios, monta mandando beijos e acenando para a platéia, que o aplaude delirantemente. Não tem juízo. O dinheiro que ganha, joga fora, comprando inutilidades ou distribuindo. Está sempre indo preso por toda a sorte de delitos: perturbar a lei do silêncio, excesso de bebida, arruaça, desacato à autoridade, sedução. Mas na hora dos rodeios, por exigência do público, é levado pelos guardas até a arena, onde faz seu espetáculo e depois o reconduzem à cela. É alegre, divertido e fantasioso. Não tem família, foi criado jogado de um orfanato a outro e está sempre encostado ou na casa de Tião, ou na casa da viúva Neuta.” (site oficial da novela).
Nada contra o ator, que é excelente, nem contra o personagem. Todavia essas informações me deixaram ainda mais pensativa: É essa a idéia de alfabetização que gostaríamos de apresentar em horário nobre para milhões de brasileiros? É esse estereotipo do aluno adulto que gostaríamos de ver veiculado em horário nobre? O aluno que aprende a assinar o seu primeiro nome está alfabetizado? Essa é a concepção do Programa Brasil Alfabetizado, considerando a propaganda veiculada na cena? E as idéias de Paulo Freire, mencionado na cena, o que tem haver com essa idéia de alfabetização?
Juntando-se a esses fatos, me deparo com esta informação na internet:
"O programa Brasil Alfabetizado, do Ministério da Educação (MEC), aplicará em três cidades do Piauí projeto piloto utilizando métodos de alfabetização desenvolvidos na ilha de Cuba para jovens e adultos acima de 15 anos. Um grupo de educadores cubanos começará em agosto a desenvolver uma versão do programa "Yo sí puedo" para o Brasil, com o objetivo de reduzir os índices de analfabetismo no País.
Realizado à distância por meio de vídeos e de material didático, o método permite um alcance maior com menores custos enquanto a metodologia empregada hoje no Brasil que exige a presença dos alunos na sala de aula. Países da África e da América Latina já adotaram o método com sucesso. Caso o êxito seja reproduzido também no Piauí, o projeto poderá ser ampliado para outras regiões.
O Brasil tem cerca de 16 milhões de analfabetos absolutos (que nunca estiveram numa escola), de acordo com o último Censo do IBGE, realizado em 2000. Em Cuba, o índice de analfabetismo entre a população acima de 15 anos é de 1%; no Brasil, é de 12% nessa faixa etária".
Radicais livres Ano IX / nº381 / abril/maio de 2005
A notícia é antiga, primeiro semestre - 2005, confesso que não sei o resultado de tudo isso hoje, mas só tenho a dizer que é lastimável tanto desencontro, falta de planejamento e seriedade na Educação do nosso país. Vou concluir esta reflexão com a fala de um aluno da 7ª série – supletivo presencial de uma escola pública da cidade de Bayeux - sobre o programa PROJOVEM do governo federal:
"Liguei pra lá professora. A moça informou que esse programa só é pra aluno que dá mais trabalho na escola, pra ver se ele se ajeita. Agora eu penso que isso é errado. A pessoa que faz tudo direito, que estuda e vem todo dia, num entra não, eles num tão pegando não, e é só para quem mora em João Pessoa, a gente que faz o maior esforço não ganha nada não".
Patrícia Santos
Novembro – 2005
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