domingo, abril 16, 2006

É certo uma doméstica ganhar mais do que um professor?

Folha de São Paulo, 09 de abril de 2006.
" O salário médio de uma empregada doméstica na cidade de São Paulo é de R$800, informa a Federação Nacional das Trabalhadoras Domésticas. É mais do que os R$ 615 pagos a uma professora iniciante da rede municipal, com uma carga horária de 20 horas.
Se comparássemos com uma doméstica diarista, a diferença seria muito maior: sua média de rendimentos é de R$ 1.600 mensais.O professor iniciante paulistano não pode, aliás, nem mesmo contar vantagem diante dos pedintes dos semáforos. Segundo estimativa da Secretaria Municipal do Desenvolvimento Social, esse trabalhador tira, em média, R$ 25 por dia.Com o rendimento inferior ao de uma empregada doméstica e quase empatado com o de um pedinte, entende-se por que os professores entraram em greve em São Paulo.
O problema não é só dinheiro: eles vivem sob intenso estresse, devido às salas superlotadas, alunos indisciplinados e agressivos, além de serem vítimas das mais diversas formas de violência.Nessa questão salarial se revelam, na verdade, os valores de uma nação. Na prática, essas comparações significam, por mais absurdo que pareçam, que a sociedade dá mais valor à posição social de uma empregada do que a de um professor público -é assim que se medem, e não no palavrório, as verdadeiras prioridades do país. Poderíamos medir a prioridade não só pelo salário mas pela baixa repercussão que essa greve tem na opinião pública. Imaginem o barulho que haveria se a paralisação fosse em escolas de elite, e os filhos dasfamílias mais ricas tivessem de ficar em casa por duas semanas.
No caso da rede pública, as mães muitas vezes não têm nem com quem deixar seus filhos. Se achamos que, sem boa educação pública, uma nação não consegue se desenvolver com um mínimo de igualdade e que a produtividade econômica estará ameaçada, o lógico seria que existissem esforços continuados e obsessivos para estimular a carreira do professor. Como podemos atrair pessoas mais talentosas e preparadas sem estímulo salarial?
Evidentemente o que vemos hoje não é culpa desse ou daquele governo, mas de uma falta de reverência a compartilhar de conhecimento entre todos. Como as famílias mais ricas têm seus filhos em escolas privadas, uma greve como a que está ocorrendo provavelmente só entra na conversa -isso se entrar- se a empregada lamentar com a patroa que não tem com quem deixar o filho. Há traduções óbvias e repetidas para essa fragilidade: repetência, evasão e baixíssimo aprendizado. (...)"
GILBERTO DIMENSTEIN
Esse texto representa, não só a realidade dos professores da rede pública no estado de São Paulo, mas de todo Brasil. Infelizmente nossos governantes ainda não "descobriram" o x da questão. Um país que não investe responsavelmente em educação, consequentemente, não conseguirá desenvolver-se satisfatoriamente.
Para nós, professores, que estamos no dia-a-dia vivenciando as mazelas da escola pública que, hoje, reflete as desiguldades sociais de uma sociedade tão injusta, os caminhos estão muito claros. É uma pena que estes caminhos/sugestões/idéias nunca sejam aproveitadas por nossos governantes. É uma pena que as "mudanças" sejam sempre implementadas de cima para baixo, sem diálogo, sem responsabilidade, sem objetivos consistentes...
E enquanto isso faz parte da rotina mensal de todos os professores da cidade de Bayeux - PB, ao abrir seu contra cheque, ver registrado a quantia de R$ 0,65 centavos referente ao salário família. Que vergonha!!!!!!!!

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